domingo, 13 de setembro de 2009

Qualquer semelhança é mera coincidência


(por Diogo Ribeiro)

Tempos Modernos parece ter servido como fonte de inspiração a diversos filmes. Por diversas vezes, há trechos do filme que lembram outros que foram produzidos depois dele.

Numa de suas mais famosas cenas, Chaplin enfrenta traficantes na prisão. A forma como briga com os bandidos, batendo suas cabeças contra as portas e contra outras cabeças e a forma como desvia dos tiros dados pelo bandido são inconfundíveis. Para o observador da cena, basta vestir o Carlitos com uma capa vermelha, um uniforme azul com um "S" estampado no peito e pronto: lá está o Superman!

A reprodução repetitiva, a produção em escala que torna homem "apenas mais um tijolo no muro", como diz a música Another brick in the wall, do Pink Floyd, não deixa as pessoas pensarem. Numa das primeiras cenas de Tempos Modernos, um rebanho de ovelhas corre em uma direção – todas são iguais. Em seguida, uma multidão de pessoas andando juntas se parecem todas iguais – com o mesmo biotipo e roupa. Não se consegue perceber os rostos cobertos pelos chapéus. Algo parecido é visto no filme The Wall , do Pink Floyd. Durante uma cena, com a música Another brick in the wall ao fundo, ocorre uma produção de alunos em série, como se estes fossem artefatos de uma fábrica.

Vendo o filme de Chaplin, e observando-se a escassez forçada do tempo por causa da repressão do diretor da fábrica que monitora todos os funcionários por meio de telas de vídeo nas paredes lembra e muito, o terrorismo aplicado pelo Big Brother aos componentes do "Partido" na história de George Orwell. Em 1984, livro de Orwell escrito nos anos 40 (depois virou filme), o Big Brother é um ditador que monitora a vida das pessoas por meio de "tele-telas" (como as telas de vídeo de Tempos Modernos). Tais "tele-telas" estão presentes até nas casas das pessoas, ou seja, interfere-se até em suas vidas íntimas. Todos vivem sob uma enorme tensão. Em Tempos Modernos, por exemplo, a obsessão do diretor da fábrica é tanta que há telas de vídeo até nas paredes do banheiro, numa prova clara de invasão de privacidade. Assim como Tempos Modernos, 1984 também conta a história de pessoas que são subordinadas a outras que estão em posição hierárquica superior. Se em 1984 há um Big Brother obrigando as pessoas a trabalhos repetitivos e contribuindo para a sua alienação, uma vez que, com muito trabalho não se sobra tempo para pensar e questionar, em Tempos Modernos há o diretor da fábrica que faz o mesmo.

E quem não se lembra das cenas em que o Pernalonga e o Patolino eram engolidos por máquinas enquanto produziam bombas em um desenho animado? A cena mais famosa de Tempos Modernos é aquela em que Carlitos é devorado pelas máquinas e passa por toda a engrenagem delas.

Num mundo onde a maquinização é um processo cada vez mais forte e as novas tecnologias acabam por tirar o emprego do homem e tomar o seu lugar, Chaplin ironiza tal processo numa cena em que uma máquina de alimentar funcionários é anunciada ao diretor da fábrica por um vendedor mecânico. Na hora da propaganda, tudo funciona direito, porém, na prática, a máquina é um desastre, dando a entender que, felizmente, há coisas que somente as pessoas podem fazer. Entretanto, tal cena não seria um prenúncio da invasão das máquinas e da formação de um mundo virtual, onde o homem não passa de mero coadjuvante de seres robóticos? Chega o século XXI: o mundo real, da maneira como era concebido em 1999, não existe mais a não ser em uma realidade virtual. Os seres humanos são todos condicionados a pensar que as coisas não mudaram e estão todos vivendo uma alucinação forçada. Existem duas realidades: uma é a do mundo real, da qual todos fazem parte, mas não tomam conhecimento e a outra é a realidade virtual, ordenada pela tecnologia, realidade essa que as pessoas acreditam viver. A vida, da forma como era, não existe mais. Só o que existe é Matrix. Em Matrix, as máquinas são o Estado, dominaram o mundo. Todo o mal é causado por elas, mas tem sua origem na ganância humana, que construiu as máquinas. E Chaplin bem que tentou avisar...

Qualquer semelhança é mera coincidência...

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